O garoto de capa vermelha

Foi só por alguns segundos. Um vislumbre pela janela arranhada do ônibus. Quase não podia acreditar em como a cena lhe lembrava algo saído de um filme.

Era um garoto que ela via pela janela. Ela sentada. Ele correndo. A touca do moletom vermelho na cabeça, o restante da peça voando atrás de suas costas como uma capa de super herói. Uma capa de cavaleiro. De um rei.

O garoto corria rua abaixo sob o sol fraco de uma tarde quente. Os chinelos batendo no calcanhar, os braços grudados ao lado do corpo.

Ele corria, mas não perdia o fôlego. Não ofegava. Parecia poder continuar correndo por dias se precisasse. Até alcançar o que almejava com a corrida. E o que um garoto daquela idade podia querer tanto para correr daquele jeito?

Talvez nada. Talvez tudo.

E o mais estranho de toda a situação é que ela se viu torcendo para que ele corresse mais rápido pela calçada desnivelada. Seu peito se enchendo de uma pressa e de uma agonia por estar ali sentada.

O garoto do lado de fora do ônibus que parecia tão livre enquanto corria pela rua ensolarada. Foram só alguns segundos, mas ela desejou ser tão livre quanto ele.

Por Giulis.


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