Acalento
Eu sabia, no momento em que escutei os passos abafados que vinham do corredor, eu sabia que era Ana quem se esgueirava pela escuridão até o meu quarto. Aquele era um costume que ela havia mantido, mesmo que agora ela estivesse no auge de seus dezesseis anos. Ela podia se achar muito madura pra brincadeiras no bosque, mas não para dormir junto da irmã mais velha. Eu agradecia por isso. Quando nós viemos passar nosso primeiro verão na casa de nossos tios éramos pequenas o bastante para nos deixarmos assustar por histórias sussurradas pelos empregados. Fadas nos troncos nodosos de árvores tão velhas quanto nossos avós. Espíritos que chamavam os nomes de crianças malcriadas, em muxoxos cantarolados entre as folhas muito verdes. Nossa babá gostava de nos contar essas histórias na hora de dormir. E depois que ela apagava a vela branca no criado mudo, e fechava a porta do quarto, não demorava para que eu escutasse a madeira ranger sob o peso dos pezinhos de Ana se esgueirando até min