A primeira vista
A primeira coisa que eu vi foram os seus dedos. Dedos finos e de unhas curtas e sujas de terra, todo o ar cheirava a terra quando eu notei a sua presença.
A tarde andava a passos lentos do lado de fora, uma brisa gostosa me espantava o calor do verão, a sala de aula vazia pelas férias já na metade. Estava entretido no dever de reforço de física de tal forma que não notei quando ele se debruçou contra a janela ao meu lado. Não escutei o riso frouxo que deixou escapar pelo nariz e me sobressaltei quando ele batucou na madeira da carteira com os dedos sujos de terra.
-Por que ainda está aqui? - ele perguntou de maneira debochada. - Achei que fosse um fantasma quando te vi pela janela.
Quase disse que a assombração deveria ser ele, pelo susto que me dera, mas me distrai com a mancha de terra no meu exercício, esfregando com o dedo apenas pra deixar a mancha pior.
-Recuperação em física - disse apenas. - E você?
Ele apoiou o rosto nas mãos sujas e olhou para o canteiro atrás da escola.
-Alguém precisa cuidar das flores - e o carinho que ele tinha na voz me surpreendeu. Não parecia condizer com o tom zombeteiro que ele usara comigo mais cedo.
-Gosta de flores? - eu perguntei mais por não ter mais nada pra dizer.
-Não particularmente - ele pareceu pensar, pendendo a cabeça para o lado por alguns segundos.
A brisa entrou pela janela mais uma vez, balançando as cortinas brancas de maneira fantasmagórica, quase numa dança que escondeu a nós dois por um instante quase mágico. Senti o cheiro de terra mais uma vez, sem saber se vinha de fora ou dele próprio, não que aquilo importasse. Pensei que ele tinha desistido de responder, quando vi o vislumbre de um sorriso torto entre os tecidos da cortina.
-Não são as flores - ele disse, encarando os próprios dedos sujos. - Eu gosto da terra.
E ele gostava. Suas mãos e o meu trabalho, jazido em esquecimento sobre a mesa, manchados de terra eram provas suficiente disso. Ele tinha dedos finos e de unhas curtas sujas de terra, e eles foram a primeira coisa que eu vi quando o conheci.
Por Giulis.
A tarde andava a passos lentos do lado de fora, uma brisa gostosa me espantava o calor do verão, a sala de aula vazia pelas férias já na metade. Estava entretido no dever de reforço de física de tal forma que não notei quando ele se debruçou contra a janela ao meu lado. Não escutei o riso frouxo que deixou escapar pelo nariz e me sobressaltei quando ele batucou na madeira da carteira com os dedos sujos de terra.
-Por que ainda está aqui? - ele perguntou de maneira debochada. - Achei que fosse um fantasma quando te vi pela janela.
Quase disse que a assombração deveria ser ele, pelo susto que me dera, mas me distrai com a mancha de terra no meu exercício, esfregando com o dedo apenas pra deixar a mancha pior.
-Recuperação em física - disse apenas. - E você?
Ele apoiou o rosto nas mãos sujas e olhou para o canteiro atrás da escola.
-Alguém precisa cuidar das flores - e o carinho que ele tinha na voz me surpreendeu. Não parecia condizer com o tom zombeteiro que ele usara comigo mais cedo.
-Gosta de flores? - eu perguntei mais por não ter mais nada pra dizer.
-Não particularmente - ele pareceu pensar, pendendo a cabeça para o lado por alguns segundos.
A brisa entrou pela janela mais uma vez, balançando as cortinas brancas de maneira fantasmagórica, quase numa dança que escondeu a nós dois por um instante quase mágico. Senti o cheiro de terra mais uma vez, sem saber se vinha de fora ou dele próprio, não que aquilo importasse. Pensei que ele tinha desistido de responder, quando vi o vislumbre de um sorriso torto entre os tecidos da cortina.
-Não são as flores - ele disse, encarando os próprios dedos sujos. - Eu gosto da terra.
E ele gostava. Suas mãos e o meu trabalho, jazido em esquecimento sobre a mesa, manchados de terra eram provas suficiente disso. Ele tinha dedos finos e de unhas curtas sujas de terra, e eles foram a primeira coisa que eu vi quando o conheci.
Por Giulis.
Comentários
Postar um comentário