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Mostrando postagens de fevereiro, 2018

Abraço

Nunca gostei de pessoas grudentas, mas ela... Nunca me senti confortável dentro dos abraços de outras pessoas, mas nos braços dela... Sempre me senti sufocado por carícias de mãos que gostam de sentir demais e beijos sem tesão, mas quando era tocado por ela eu virava um gato carente, uma criança manhosa, e meu corpo implorava por mais de seus carinhos sutis e de seus abraços de urso. Daqueles que te deixam sentir cada curva do corpo alheio. Apertado. Sem espaço pra solidão. Com ela aprendi como é bom poder se perder no peito de outro alguém, se deixar envolver por braços acolhedores e ser coberto de beijos que espantam todas as outras coisas banais. Como é bom ter meu cheiro misturado com o dela. Nosso cheiro. Como é gostoso sentir sua respiração tão perto da minha e sentir seu peito tremer quando ela ri de alguma besteira qualquer que eu disse. Como ela acaricia meu cabelo e como me olha tão cheia de amor. Com ela aprendi o verdadeiro valor de um abraço e como um ato tão simple...

Talvez

Me mandaram descer, logo eu que amo viver nas nuvens. Talvez eu tenha esquecido o nome dela, mas daquele rosto, não tem como não se lembrar. De quem eu falo? Da menina que mora no terceiro andar, no prédio em frente ao supermercado, virando a esquina do posto de gasolina. Como eu sei? Bom, eu sou alguém que senta numa cadeira perto da janela, na padaria, ao lado do supermercado toda manhã. Como a conheci? Ela sai do prédio de segunda a sexta, as 8 em ponto, e entre uma xícara e outra de café passei a notar a bela moça que atravessa a rua, entra na padaria, toma um chá, come dois pães de queijo e sai apressada para não perder o ônibus. Quanto tempo faz? Não tenho certeza, sou péssimo com datas, a questão é que pode ter se passado dias, semanas e até meses. Por que não falo com ela? Se você me conhecesse, saberia que não tenho chance alguma. Ela é o tipo de pessoa boa de se apreciar, talvez uma conversa cara-a-cara quebraria o meu encanto, ou não, talvez percebesse que el...

Crescer tem dessas coisas

Começar é, começar é sempre difícil, não é mais como escolher entre o lápis de cor azul ou o amarelo para pintar o boné do garoto que você desenhou na aula de artes. Não é mais assim, é mais complicado que isso, é como escolher entre nadar ou afundar no meio do oceano, durante uma chuva de meteoros. Porque sim! Sim, você cresceu, e crescer tem dessas coisas. Agora você não se sente mais, quer se tocar, mas não consegue ver sua imagem no espelho. Tudo parece tão errado, só por que você cresceu e crescer tem dessas coisas. É difícil se enquadrar, se encontrar, você perdeu sua arte, mas no fundo ainda acha que tudo vai melhorar. Mas crescer tem dessas coisas, prova pra passar e o mundo pra conquistar. Todos apontam pra você dizendo que o futuro está em suas mãos, e você sabe que será apedrejado caso chegue a falhar, mas você ainda respira fundo e levanta da cama, porque crescer tem dessas coisas. Seu pai diz que você deve arrumar uma namorada boa, moça de família, mas você se ...

Blues Fúnebre

Blues Fúnebre Que os relógios parem e os telefones silenciem, Para que calem os cães, bons ossos os providenciem, Parem os pianos e guiem ao som dos tambores O caixão, deixem os de luto tomarem suas dores. Que aviões a sobrevoar com desconforto Rabisquem nos céus a mensagem Ele Está Morto, Que em cada pomba seja colocada uma gravata, E para os guardas de trânsito luvas negras basta. Foi meu norte, meu sul, meu leste e meu oeste, Foi cada dia da semana de uma forma que apetece Do meio dia à meia noite, foi minha conversa e minha canção; Pensei o amor ser infinito: falhei em ter razão. Estrelas já não importam mais: apaguem o céu impregnado; Finalizem a lua, e deixem o sol dilacerado; Drenem todo o oceano e deixem a floresta destruída. Pois nada agora há de bom nesta vida. Poema traduzido por Raúl Rocha - Original: Funeral Blues de W. H. Auden